terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ah, se eu pudesse.

Observando cada gesto, cada parte do seu corpo, cada ruga do seu rosto, cada ângulo do seu sorriso.É assim que eu me sinto bem, é assim que eu me sinto próxima de você mesmo sem poder estar. Nesse momento meu pensamento fervilha, cria situações em que você me olha. Talvez eu queira não estar nessa situação, não criar expectativas, esperanças. Minhas mãos tremem em só você passar, com ela. Sempre. Como eu queria que você estivesse ali, rindo pra mim, falando comigo, pegando na minha mão, passando comigo. Como eu queria. Como eu queria perder essa esperança de estar ali, não somente admirando cada gesto seu, cada parte do seu corpo, cada ruga do seu rosto, cada ângulo do seu sorriso.
Olho pela janela e vejo um mundo quadrado. Você aqui comigo. Não me diz nada. Apenas me olha. Gosto de sentir que me olha quando não estou vendo. Continuo olhando pela janela, passam pássaros e aviões, carros e bicicletas. O mundo corre lá fora. Você não diz nada. Agora suspira. Pega na minha mão como se quisesse me trazer de volta. Agora lá fora passam crianças e velhos. De onde vêm? Pra onde vão? Entra uma brisa que causa arrepio e sua mão escorre pelo meu corpo. Pára na face e a acaricia. Tenta me roubar...busca meu olhar... Parece que por um segundo o desconhecido me parece mais interessante. Me pergunta sobre o amor, não digo nada. Suspiro. Suspira. Pergunta-me sobre a gente. Quanto a nós dois, quem sabe mais tarde.
Quando as paixões acabam resta a serenidade.
É como se toda aquela turbulência se fosse como uma tempestade passa e deixa tudo remexido que com o tempo se ajeita.
O sol aparece e as coisas voltam ao seu devido estado. Algumas árvores caídas, alguns pássaros se vão, mas essas mudanças comporão um novo ambiente talvez mais resistente a novas tempestades. Os bichos saberão onde se esconder, as árvores que ficaram são fortes o suficiente para não cair, tudo se torna diferente, porém seguro.
Muitas vezes as pessoas que deixamos de amar assumem uma posição diferente em nossas vidas. Talvez uma posição mais confortável para ambas as partes. Um novo ambiente se forma. Quem sabe mais forte.
Não deveremos, no entanto, torcer para que as paixões se acabem. Tudo talvez seja mais bonito antes da tempestade.
Talvez a perda seja o momento mais difícil pra mim. É quando se vê que o que amo está pra me escapar por entre os dedos que me deparo com minha necessidade de tentar evitar o inevitável.
Já sinto falta de tanta coisa que ainda vou perder. Amigos, amores, escola, provas aos sábados...
Tanto medo do que há por vir... Tanta vontade de que as coisas se ajeitem. Tudo tem que dar mais que certo pra tentar apagar a tristeza de tantas despedidas. Talvez algumas dessas distâncias me façam bem, mas eu sei que no fundo a grande maioria vai deixar um dano irreparável em mim. Sei que Bruno só vai vir duas vezes por ano e que mesmo assim a gente mal vá se ver. Sei que toda vez que eu passar pelo Anchieta vai me aparecer na cabeça todos aquelas aulas que eu não agüentava mais, todas aquelas pessoas que eu gostava. Talvez a gente ainda esteja lá em pensamento ocupando as cadeiras, roubando extintores, fugindo das aulas de Octa. Talvez nós nos encontremos nos corredores da vida ou nas salas de Ritinha. Talvez isso até perca a importância pra gente, mas eu sei que enquanto isso não acontecer eu vou lembrar de cada momento, de cada "bom dia" mal humorado de manhã, de cada desenho no quadro de giz. Sei também que o que vem aí me encanta, me apaixona, mas é impossível deixar de amar cada gesto de cada pessoa, cada "Xuxuuuuu" desesperado no meio da sala, cada "Xukruty" respondido meio envergonhado.
O medo me cerca. Do lado que foi, do lado que é e do lado que será. É muito difícil lidar com tantas mudanças, ter que se desapegar de tanta coisa, tanta gente.
As lágrimas sempre presentes indicam tristeza, alegria, ansiedade, medo e, principalmente, saudade.
O som da palavra
O tom da cor
A expressão do gesto
A intensidade da vida

Tudo lembra você.
Meu bem,

Parei pra pensar nesses últimos anos e percebi que tudo estava errado. Do seu jeito de acordar ao seu jeito de ir dormir.
O seu modo sempre errado de preparar o café da manhã, do seu pão com ovos mexidos que eu comia toda manhã mesmo sem gostar. O seu café que piorava a minha gastrite, a temperatura da água do chuveiro, o cheiro do amaciante na minha roupa, a gola que você nunca passava certo, o beijo de despedida que eu não gostava, o cd que você insistia em deixar no meu carro, a cor do meu carro.
O trabalho que você se orgulhava de mim, do chefe que você cismava de chamar pra jantar e do perfume irritante da mulher dele. O almoço sempre meio frio, a carne bem passada, o arroz temperado, o suco de manga, a sabor do creme dental. A música que toca todas as tardes, os enfeites do meu escritório.
O jantar sempre do mesmo restaurante, o meu lado da cama, o sexo comum demais, o sono e a sua mania de dormir abraçado.
Mas percebi que o que realmente me incomoda é que eu não consigo me incomodar com todas essas coisas. Percebi também que a única coisa que realmente importa é poder olhar pra você. Admirar-te como uma obra de arte e, mesmo com um traço errado, não ter vontade de mudar.

Beijos,
Seu amado.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008



Carolina entrou em casa como de costume e seguiu a rotina como um dia comum. Deixou as chaves no aparador e seguiu para a cozinha. Acendeu a luz e pegou um copo de água da geladeira. Foi para o quarto e pegou a toalha. Entrou no banho como sempre. A mesma temperatura da água, o mesmo sabonete. Tudo quase igual. A única coisa que mudou foi Carolina. O telefone tocou e ela não correu pra antender como sempre fazia. 7:30 era o horário que João lhe costumava ligar, ela, no entanto, não se apressou pra antender, o seu coração não disparou...
Inexplicavelmente Carolina tinha deixado de amar João por uma simples frase dele. Repetida tantas vezes, nas mesmas situações. Tudo quase igual. A única coisa que mudou foi Carolina.